Meu pai, o chorão
A cantora Giselle Martine fala
2 de agosto 2002
de Gerson Ferreira Pinto.
Giselle MartineMeu pai, Gerson Ferreira Pinto, era saxofonista e flautista do grupo Fórmula 7, tocando ao lado de Luizão Maia, Hélio Delmiro, Marcio Montarroyos, entre outras feras. É dele a flauta linda da gravação de Canção do Amanhecer de Edu Lobo pelo Fórmula 7. Ele também é que tocava o sax na abertura do programa Hoje é dia de rock de Jair de Taumaturgo nos anos 60.
Depois que se formou em Engenharia Química, largou a música profissional e passou a se envolver com o choro. Tocando no grupo Amigos do Choro, ganhou dois concursos ao lado do bandolinista Rossini Ferreira: um, no teatro João Caetano; outro, o concurso da TV Bandeirantes, onde competiram com Sivuca, Copinha, gente importante do meio do choro.
Após estes eventos que foram fundamentais no período de renascimento do choro, o grupo foi convidado prá gravar um disco, hoje considerado marco do choro, Amigos do Choro, também lançado no Japão e considerado o melhor disco instrumental de 1978 pela crítica especializada.
Quando o Rossini saiu do conjunto e voltou prá Pernambuco, o grupo se desfez pela morte de alguns dos membros, principalmente do primeiro violão, Jair Justino de Oliveira, o Boi, sustentáculo do grupo e responsável pelos arranjos dos 3 violões em tercinas.
Tempos depois, reuniram-se de novo, e tinha roda de choro todo sábado na minha casa, com presenças ilustres como Déo Rian e outros. E desta vez o grupo contava com outro cavaquinista, o Paulo Heleno, que tocava no Conversa de Cordas, e um outro violonista, o Sérgio, que foi aluno e amigo pessoal do Meira, uma verdadeira enciclopédia de músicas antigas e inéditas de gente como Ismael Silva, Claudionor Cruz e outros sambistas da Velha Guarda. Naquela altura, estava me organizando prá levantar junto a ele algumas músicas, registrar algumas destas esquecidas, já que ele sabia tocar as canções e tinha de cor suas letras também. Infelizmente, com cerca de 60 anos, ele morreu bestamente de uma pneumonia galopante.
Depois disso meu pai nunca mais tocou. Perdeu o gosto pelo instrumento, o que é uma pena. Uma vez Altamiro disse ao meu pai que ninguém tocaria o Ansiedade do Rossini melhor que ele. De vez em quando aconteciam uns churrascos na casa de parentes dele, Altamiro, e o Mauricio Carrilho convidou meu pai, prá estimulá-lo. Mas ele diz que já não sente vontade alguma de tocar, só ouvir. O fato é que há pouco tempo o flautista Léo [Miranda] gravou um disco de Callado, e suas fontes de pesquisa incluíram o acervo de meu pai.
Houve um tempo que papai andava por aí, pesquisando tudo, sobre os compositores de choro que ninguém tem muitos registros, coisa e tal. Sempre fez isso por amor, jamais quis ganhar dinheiro da música desde que deixou de ser profissional dela.
Agora está às voltas com outro tipo de pesquisa. Lançou um livro científico na área dele e está preparando o segundo. Agora o que mais interessa a meu pai é o livro a que também ele está se dedicando sobre as plantas brasileiras e suas potencialidades dentro da química. É um trabalho sério, em que ele está listando milhares de plantas nativas nacionais e para o qual convidou botânicos para participar. Não há nada do tipo ainda no Brasil.
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