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Sérgio Santos sobre Sérgio Santos
6 de setembro 2004
Procurei dar ao disco Sérgio Santos uma unidade não apenas temática, com o repertório baseado em sambas e na estética do choro, mas também sonora, optando por uma sonoridade que percorresse o disco inteiro. Essa sonoridade foi trabalhada com músicos que tem uma forma personalíssima de tocar, e que formaram a base instrumetal de todo o trabalho: André Mehmari, Rodolfo Stroeter e Tutty Moreno. As sutilezas da forma de tocar desses músicos interferiu inclusive na minha forma de cantar, procurando adaptar o tamanho da minha emissão e a minha divisão rítmica ao balanço que a base instrumental já trazia. Essas duas escolhas foram fundamentais no resultado final do trabalho.
Os arranjos para metais do Nelson Ayres já existiam desde o show que fiz no Hollywood Bowl em 1999, quando levei um quarteto de metais que tive a oportunidade de reunir novamente nessa gravação. Os arranjos de sopros que fiz me deixaram muito feliz pelo resultado da sonoridade.
Quanto às composições, me arrisquei um pouco mais como letrista. Posso parecer um pouco abusado tendo uma obra tão grande com um parceiro como o Paulo Cesar Pinheiro, mas nessas quatro faixas em que assino as letras tinha um recado claro a dar. Três delas são homenagens a pessoas que adimiro muito: ao próprio Paulo Cesar e a Maurício Tapajós em “Feito do Nada”; ao grande zagueiro Luisinho da seleção brasileira da Copa de ’82 e do Atlético Mineiro, meu time de coração, em “Jogo de Zagueiro”; e ao dançarino Carlinhos de Jesus, um ícone da dança de salão do Brasil, em “Salão”. O interessante é que nas três letras, homenageio as pessoas não falando sobre elas, mas falando como se fosse elas. A quarta música é “Samba em Serenata”, a música que fiz que minha mulher mais gosta.
Compor com Paulo Cesar Pinheiro é um privilégio. Letras como a de “Coração de Mulher” e “Um Choro” e “Desmascarada” são verdadeiras obras primas. De nossas parcerias, há músicas compostas a quase dez anos, como “Coração de Mulher”, e letras como a de “Paixão Bandida”, que foram feitas enquanto já estava no estúdio gravando.
Leila Pinheiro, Sérgio Santos e Francis Hime num show do
Sérgio no Paço Imprerial, em 2002 (foto: Leila Pinheiro site oficial)“Paixão Bandida” tem uma história curiosa. Desde que conheço Francis Hime temos vontade de compor alguma coisa juntos. No ano passado fui ao Rio fazer alguns shows e o convidei para fazer uma participação. Quando fui à casa dele ensaiar, já tarde da noite e um dia antes do show, aproveitei e levei a partitura com a primeira parte desse choro-canção, e lhe propus que fizesse a segunda parte. Ele tocou ao piano, achou bonita e disse que um dia iria fazer. Naquele dia fui dormir feliz com a perspectiva de me tornar parceiro de um dos meus grandes ídolos. No dia seguinte, durante o show, após tocar o que havíamos ensaiado, ele continuou no palco, colocou uma partitura sobre o piano e disse algo como: “Agora você vai ouvir a nossa primeira parceria.” E tocou a música inteira, ali mesmo, diante do público que assistia ao show, com a segunda parte dele, que havia feito durante toda a noite anterior. E eu quase fui ao chão de surpresa e alegria, um momento para mim emocionante.
É um privilégio poder contar com a voz do Francis na nossa parceria, e com Leila Pinheiro, uma das cantoras de que mais gosto, em “Coração de Mulher”.
Sérgio Santos: Sérgio Santos
(Biscoito Fino BF 579; 2004) 55:59 min.01. Feito de Nada (Sérgio Santos)
02. O Samba Vai Balançar (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
03. Verniz (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
04. Coração de Mulher (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
05. Jogo de Zagueiro (Sérgio Santos)
06. Um Choro (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
07. Guardados (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
08. Vento (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
09. Anuário (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
10. Samba em Serenata (Sérgio Santos)
11. Paixão Bandida (Sérgio Santos/Francis Hime/Paulo Cesar Pinheiro)
12. Desmascarada (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
13. Salão (Sérgio Santos)
14. Samba Não Tem Dono (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
15. Voz (Sérgio Santos/Paulo Cesar Pinheiro)
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