:: Os artigos individuais nesta série foram originalmente
:: publicados na revista Daniella Thompson on Brazil.

 Tradução: Alexandre Dias

 

As Crônicas Bovinas, Parte 21

E agora algo levemente clássico.

Daniella Thompson

10 de agosto de 2002


Alexandre Levy

Durante seus quase dois curtos anos no Brasil, Darius Milhaud observou muitos aspectos da música do país. Em seu artigo inédito Bresilien Music [sic], escrito no Mills College em 1942 ou 43, Milhaud descreveu vários gêneros musicais populares e suas origens, assim como a obra de compositores eruditos como Carlos Gomes, Alberto Nepomuceno, Henrique Oswald, Francisco Braga, Glauco Velásquez, Luciano Gallet, Villa-Lobos, Francisco Mignone, Oscar Lorenzo Fernandes, Radamés Gnattali e Camargo Guarnieri.

Dos compositores acima mencionados, apenas um (Nepomuceno) é citado em Le Boeuf sur le Toit, mas a composição dele não é de modo algum a única composição “séria” emprestada por Milhaud. Embora Milhaud nunca tenha mencionado Alexandre Levy pelo nome, ele utilizou sua peça mais famosa no rondó.



Rua 15 de Novembro, sede da Casa Levy

Melodia No. 21: “Tango Brasileiro” (1890)

Alexandre Levy (1864–1892) foi um compositor, pianista, maestro, e crítico de música que viveu em São Paulo, onde morreu aos 27 anos. Seu pai foi o clarinetista francês Louis Levy, que se estabeleceu em São Paulo quatro anos antes do nascimento de Alexandre e lá fundou a loja de instrumentos musicais Casa Levy, um ponto de encontro importante dos músicos e artistas da cidade. Uma criança prodígio, Alexandre começou a tocar em público aos oito anos e foi comparado a Mozart pelos críticos de música de seu tempo. Ele estudou em Paris e viajou para a Europa, e sua produção incluía músicas orquestrais, de câmara, e para instrumentos solo. As composições maduras de Levy mostravam traços nacionalistas marcados, incorporando temas de músicas folclóricas, assim como música popular urbana e rural.

Um texto biográfico publicado pela Biblioteca Nacional do Brasil aponta o discurso nacionalista que dominava o fim do século XIX—quando a escravidão havia sido abolida e a República declarada—como o engenho que impulsionava a música nacionalista. O texto concentra a atenção em Levy e Alberto Nepomuceno, citando Mário de Andrade:

E realmente são estes dois homens [...] as primeiras conformações eruditas do novo estado de consciência coletivo que se formava na evolução social da nossa música, o nacionalista.

Em sua página virtual dedicada a Alexandre Levy, Nando Florestan forneceu as seguintes informações sobre a composição:

Tango Brasileiro foi publicado em 1890 em um jornal, o Diário Popular, “como um presente para nossas graciosas leitoras”. Isso era obviamente uma referência às jovens moças, que tinham que de tocar o piano, e de fato costumavam fazê-lo. Mas a simpatia do Tango transcendeu aquelas intérpretes do século XIX e a peça hoje faz parte do repertório brasileiro comum para piano. Guiomar Novaes, Antonieta Rudge e Eudóxia de Barros são algumas das pianistas que o gravaram.

O Tango de Levy alterna constantemente entre Lá maior e Lá menor. O acorde final em Lá menor é inesperado, já que a última parte é em Lá maior—justamente o oposto do costume barroco de terminar peças escritas em um tom menor com um acorde maior.


Eudóxia de Barros e Osvaldo Lacerda

A base de dados de gravações 78 rpm da Fundação Joaquim Nabuco lista apenas uma do “Tango Brasileiro”, gravada por ninguém menos que Aloysio de Alencar Pinto, o principal identificador das melodias do Boeuf:

Autor: Alexandre Levy
Título: Tango Brasileiro
Intérprete: Aloisio Pinto (piano)
Gravadora: Victor
Número: 87.5518-A
Matriz: B3VB0323
Data gravação: 03.12.1953
Data lançamento: Mar/1954

Nós iremos comparar a parte B do “Tango Brasileiro” como ela é citada por Milhaud aos 11min 20s na gravação de Louis de Froment

com um trecho da gravação de Eudóxia de Barros, tocando a composição original.

Em uma aparição final, a abertura do “Tango Brasileiro”

serve como encerramento de Le Boeuf sur le Toit, onde ela aparece duas vezes, seguindo as 14ª e 15ª reiterações do tema do rondó.

 

 

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