:: Os artigos individuais nesta série foram originalmente
:: publicados na revista Daniella Thompson on Brazil.

 Tradução: Alexandre Dias

 

As Crônicas Bovinas, Parte 27

Tupinambá é chamado à ribalta.

Daniella Thompson

9 de novembro de 2002 e 4 de novembro de 2010


Marcelo Tupinambá

Durante essa série, nós visitamos Marcelo Tupinambá seis vezes (sem contar o artigo introdutório), para cada ocorrência anterior de uma melodia sua em Le Boeuf sur le Toit. Em quatro dessas ocasiões, nós também tivemos um encontro passageiro com o letrista Arlindo Leal. Enquanto Tupinambá está mostrando sua sétima música antes de retirar-se da cena, deveríamos dedicar algumas palavras a Leal. Afinal, tendo sido co-autor de cinco obras que constam em Le Boeuf, ele só perde em segundo lugar para Tupinambá na lista dos mais citados.

Arlindo Leal nasceu em São Paulo em 1871, e ninguém parece saber quando ou onde ele morreu. Em um apêndice do livro Marcelo Tupinambá—Obra Musical de Fernando Lobo de Benedicto Pires de Almeida, Leal é descrito como um dos autores teatrais mais operosos em evidência na década de 1920, assim como um jornalista, poeta, e cultor do regionalismo. Em 1903 ele co-fundou o jornal Vida Paulista, do qual um exemplar da primeira edição está preservado na seção de livros raros da Biblioteca Mário de Andrade.

A produção teatral de Leal incluía comédias, operetas, revistas e burletas. Ele tinha interesse particular pela feição regionalista numa época em que a vida do caipira do sul estava absorvendo influxos dos costumes do sertanejo do norte e nordeste. Suas produções teatrais eram igualmente bem-sucedidas no Rio de Janeiro como em São Paulo. No início da década de 20, ele foi co-autor de várias canções de carnaval com o famoso violonista Américo Jacomino (Canhoto).

Canções de Marcelo Tupinambá & Arlindo Leal
01. Acugelê! Acubabá!* (tanguinho)
02. Ai... Ai... (tanguinho)
03. Ao Som da Viola (tango)
04. Baubuleta* (modinha)
05. Chão Parado (tango)
06. Chorão (tango)
07. Caboclo do Norte (tango)
08. Deixa Está (tanguinho)
09. Finório (tango-sertanejo)
10. Maricota, Sai da Chuva (tanguinho)
11. Meiga (valsa)
12. Por Ti (valsa)
13. Que Sodade (tanguinho [cena sertaneja])
14. Ruâna (sertaneja)
15. Sou Batuta* (tango)
16. Toada (tanguinho)
17. Tristeza de Caboclo
(tanguinho [toada])
18. Trigueira (tanguinho)
19. Viola Cantadeira (tanguinho [canção sertaneja])

* Leal assinou estas como José Eloy.


Folha publicitária listando 15 composições
de Tupinambá (incl. “Sou Batuta”)
no repertório dos Danilos

Melodia No. 27: “Sou Batuta” (1919)

O tanguinho “Sou Batuta” foi publicado pela C.E.M.B. (Casa Editora Musical Brasileira) de Campassi & Camin no mesmo ano que o sucesso estrondoso “Tristeza de Caboclo”. A capa da partitura para piano lista ambos os tanguinhos entre 25 músicas no Repertorio Sertanejo dos Celebres Duettistas “Os Danilos” (muitas das outras também foram compostas por Tupinambá). Na mesma capa, “Sou Batuta” é anunciado como “Sucesso da Orchestra Andreozzi de Rio de Janeiro”.

A base de dados de discos 78 rpm na Fundação Joaquim Nabuco não mostra nenhuma gravação dos Danilos e tampouco de "Sou Batuta", mas ela lista sim seis músicas de Tupinambá gravadas pela Orchestra Andreozzi: os tanguinhos “Tietê”, “A Vida É Essa”, “Sertanejinha” e “Toada”; a valsa “Alma em Flor”; e a sertaneja “Ruana”—todas pelo selo Odeon.

“Sou Batuta” começa aos 14min 49s na gravação de Le Boeuf sur le Toit feita por Louis de Froment.

No tempo em que este artigo foi escrito, a única gravação conhecida da canção original era aquela feita pela banda Bloco Artístico. Eis um trecho dela.



Tereza Pineschi

Em 2005, a cantora Tereza Pineschi lançou o CD O Teu Grammophone É Bão (Pôr do Som/Atração atr37016), com um repertório de polcas, maxixes e lundus, incluindo “Sou Batuta”* (escutem aqui). Em contraste à interpretação desanimada do Bloco Artístico, a gravação da cantora fas jus à letra vivaz, escrita para o cantor se gabar de sua maestria em dançar o maxixe.

Em dezembro de 2012, o pianista Alexandre Dias gravou esta interpretação.


Sou Batuta....
Tanguinho
Letra de José Eloy
Musica de Marcello Tupynambá

Um maxixe, bem dançado,
O prazer sabe excitar,
Quem o dança apaixonado
Fica logo palpitar...

Maxixando bem a geito
Co' uma dama appetitosa
Eu a junto contra o peito
E minh'alma inteira gosa

Sou batuta, sou batuta,
Sou batuta no dançar
Eu não sou nenhum recruta
Quando quero maxixar!

Sou batuta, sou batuta,
Sou batuta no quebrar
Sempre tenho bôa conducta
Maxixando c'o meu par

Quando eu ouço, entusiasmado,
Um maxixe alguem tocar,
Fico logo enfeitiçado
Com vontade de quebrar...

E, quando eu entro na dança
Só se ouve, só se escuta;
“Quebra, requebra, não cança
Que tu és mesmo batuta!”

Sou batuta, sou batuta,
Sou batuta no dançar
etc.

= = =

* Dica de Alexandre Dias.
A gravação do Bloco Artístico foi fornecida por Roberto de Azevedo.

 

 

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